20 anos consecutivos – vamos fazer de conta que…

Opinião de João Costa

João Bruto da CostaQuem ouvisse António Costa a falar sobre a governação de “20 anos consecutivos” de PS nos Açores, por certo pensava que o Primeiro-Ministro não vem aos Açores há muitos anos, não olha para os estudos e indicadores sociais ou, simplesmente, não conhece a realidade das ilhas, os problemas que enfrentam e os desafios do futuro.

Claro que nada disto é real, claro que António Costa está farto de saber que os Açores não são o paraíso rosa que pinta com as silhuetas de Cordeiro e César e nem mesmo os parceiros que o acompanham na geringonça nacional pensam o mesmo.

Mais grave do que o Primeiro-Ministro ignorar que os Açores são a região com mais desigualdades sociais e, por essa razão, ocupa os últimos lugares no relatório recentemente revelado pela Europa sobre coesão social, mais grave do que isso é o líder nacional do partido que governa nos Açores há “20 anos consecutivos” não ouvir sequer o que dizem os próprios governantes do PS Açores e, desde logo, o Presidente do Governo Regional, Vasco Cordeiro.

É que se António Costa ouvisse o que se diz nos discursos oficiais nos Açores saberia que o insucesso escolar é uma “calamidade”, conforme a classificou o próprio governante socialista, Avelino Meneses; saberia que a saúde é o “calcanhar de Aquiles” da governação do PS Açores, pois foi o que afirmou o seu braço direito, Carlos César, e saberia que na lavoura regional se vive numa “tempestade perfeita” a que acresce que as pescas nos Açores necessitam de um “resgate”, tendo isso sido afirmado por Vasco Cordeiro.

Nessa medida, e como ouvimos António Costa orgulhar-se efusivamente com a governação de “20 anos consecutivos” do PS nos Açores, temos de concluir que, não andando o Primeiro-Ministro desatento, só podia estar a falar num registo de faz de conta. Sendo assim, faz de conta que não há 50 mil açorianos sem médico de família, nem 10 mil à espera de uma cirurgia, alguns há vários anos.

Faz de conta que não somos os recordistas da pobreza, desde logo na sua manifestação mais elementar que é existir mais de 7% da população a viver com o rendimento social de inserção. Faz de conta que não existem 60% das explorações leiteiras em risco de falência e faz de conta que nas pescas o rendimento de muitos não se fica por pouco mais de 100 euros mensais.

Faz de conta que os Açores não são a região do país onde a diferença entre mais ricos e mais pobres é mais acentuada. Faz de conta que nas ilhas se respira economia, faz de conta que não somos a região do país com maior insucesso e abandono escolar, nem que somos a região onde há mais prevalência de alcoolismo ou abusos sexuais. Faz de conta que os socialistas, depois de “20 anos consecutivos” não tornaram os Açores uma região onde as empresas públicas vivem de avales para complementar os desejos eleitorais do partido do poder, nem que o Tribunal de Contas revela as ilegalidades de dezenas de contratos de trabalho consumadas em empresas tuteladas pelo poder regional.

Faz de conta que não somos recordistas de baixos rendimentos ou de desemprego acumulado com programas de ocupação temporária. Para um Primeiro-Ministro que fez de conta que o povo o elegeu para o lugar que ocupa até nem se estranha a ficção sobre os Açores e a realidade que vive a região.

A alegria socialista em modo de congresso fez de conta que os “20 anos consecutivos” de governos do PS nos Açores são exemplo de boa governança, mas dada a época que vivemos ser de entrada na chamada “silly season”, vamos fazer de conta que é nisso que António Costa acredita!

 

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