Opinião de Maria do Céu Patrão Neves
“Vaca” sempre foi um termo polissémico na nossa língua e frequentemente revestido de simbolismo através das metáforas que inspira. “Ter uma grande vaca!” é exaltação de enorme e surpreendida satisfação de quem beneficiou de uma sorte repentina; “fazer uma vaquinha” é expressão de uma cumplicidade quase afectuosa na divisão de custos ou pesos que aliviam um pouco a todos. E, claro, os tempos das “vacas gordas e das vacas magras” há muito se libertaram do ciclo bíblico dos 7 anos para poderem surgir hoje em todas as estações do ano, persistindo, em todo o caso, a reportarem-se à abundância e à escassez de bens, respectivamente.
Recentemente o léxico português viu-se enriquecido pelo nosso Primeiro-Ministro através do seu já viral gosto pelas “vacas voadoras” que, desta feita, e segundo o próprio, simbolizam que (a Costa) “nada é impossível”. Mas, será…?
A “vaquinha” que o primeiro-ministro quis fazer com Ministra da Modernização Administrativa Maria Leitão Marques, aquando do lançamento do novo “Simplex”, ao oferecer-lhe uma “vaca voadora” – não sei se para dividir os impossíveis do projecto anunciado – não lhe trouxe uma “grande vaca” – afinal a “vaca” não voou, só fingiu, bateu as asas postiças… Na verdade, este bizarro mas significativo episódio protagonizado pelo Primeiro-Ministro apenas veio confirmar a existência de uma terceira categoria de “vaca” – de que o próprio é fervoroso crente –, uma “vaca” entre as “magras” e as “gordas”, não a “voadora”, mas a “insuflada”, ou seja, a que de facto é magra mas parece gorda.
Pois é, vivemos hoje o tempo das “vacas insufladas”, um tempo em que as vacas de facto emagrecem mas que, sistematicamente insufladas com demagogia e populismo, ilusionismo e malabarismo, optimismo e impetuosidade, vão inchando, inchando, parecendo que estão a engordar. Mas não estão…!
As exportações têm vindo a diminuir, o deficit a aumentar, ao fim de três anos regressámos à destruição de emprego, além da sua precaridade ter já aumentado. Fora e dentro do país, a Comissão Europeia, o Fundo Monetário Internacional, a OCDE, o Banco de Portugal, o Conselho de Finanças Públicas, para nomear apenas algumas instituições credíveis, todas apresentam estimativas para o crescimento português inferiores às do governo. Se a “vaca” voasse, seria baixinho, mas não voa, emagrece, perante a despreocupação generalizada dos nossos governantes que regularmente a vão insuflando com palavras diárias de confiança numa realidade futura ou imaginária, para lhe dar o aspecto de mais gordinha… A “vaca voadora” de António Costa também só batia as asas, pendurada num fio transparente manobrado pelo próprio, para transmitir a ilusão de que voava.
Mas, quem sabe…um dia de tão inchadas até pode ser que voem!