Opinião de Inês Sá
É sempre assim. Mais uma campanha eleitoral, mais uma panóplia de ideias e promessas “inovadoras” para o nosso sistema educativo. Já não há quem aguente esta agitação constante num sistema que inacreditavelmente, se quer estável, congruente e responsável. Embora todos o defendam, a verdade é que todos têm o tema na sua agenda, umas mais ambiciosas outras menos, certo é que a educação tem sempre lugar de destaque nas diversas bandeiras partidárias. E se por um lado esta constatação é inevitavelmente o garante de que é do conhecimento de todos que o nosso sistema educativo “vive nas ruas da amargura”, por outro preocupa-me a instabilidade que tantas sentenças e diretrizes provocam aos mais diversos atores deste sistema. Todos nós precisamos de saber qual o caminho a percorrer, seja na nossa vida pessoal, seja na nossa vida profissional, porque por mais aventureiros que possamos ser, ninguém gosta de andar à deriva ou num constante “pára-arranca”, quando não vem também a “marcha-atrás” que coloca qualquer meta inalcançável ou em nenhures! Já se passaram décadas desde a altura em que se falou pela primeira vez em Portugal num Pacto Educativo para o Futuro (1995) e em pleno ano de 2016 este é ainda uma miragem com consequências desoladoras mas reais. Hoje, e por culpa de todos nós que vamos assistindo passivamente a tamanha confusão, a educação, tema que a meu ver deveria estar no cimo da pirâmide das prioridades do nosso País, continua a ser a primeira vítima do poder!
É certo que vivemos na era dos especialistas, em todas as áreas aparece alguém que só por espernear mais do que o vizinho se intitula de “especialista na matéria”, há até aqueles que acumulam especialidades em diferentes domínios, desde o turismo aos navios, esvoaçando nos aviões, ludibriando a “triagem de manchester”, tropeçando na saúde e teorizando a educação, não falta quem saiba muito mais do que qualquer um de nós. Mas o facto de não sermos especialistas, não quer dizer que não tenhamos uma opinião formada sobre o assunto, baseada em constatações reais e não virtuais, com as quais somos confrontados no nosso dia-a-dia, nos imensos e diferentes papéis que desempenhamos na nossa sociedade, quase todos eles, inevitavelmente, relacionados com a educação. E dessas constatações, é impossível fugir àquela que, somente com base no meu desempenho enquanto encarregada de educação, se evidência de forma assustadora: A escola, tal como está, não tem como aliciar as gerações atuais, salvo algumas exceções em que o enamoramento dos alunos pela escola é todo ele conquistado pelo(s) docente(s), o que considerando todas as etapas do percurso escolar, acaba por ser um namoro bem definido no tempo. E não, não me venham com a teoria de que os alunos é que não querem saber ou que os alunos são preguiçosos ou qualquer um dos infinitos argumentos retrógrados que por aí se ouve, porque esse nunca será o caminho. Até porque o caminho só poderá começar a ser construído no dia em que houver coragem política para se assumir que a instituição escola e uma boa parte dos métodos pedagógicos usados por esta, pura e simplesmente, faliram! E faliram, entre outros motivos, porque à semelhança de tantas empresas e instituições, foram incapazes de acompanhar o ritmo da revolução tecnológica iniciada ainda na década de 70!
Pensemos em nós, adultos, que por curiosidade ou obrigação vamos assistir a um seminário, a uma formação, a um congresso. Entramos na sala e deparamo-nos com uma apresentação monocórdica, sem qualquer suporte digital, sem dinâmica, sem energia, sem qualquer tipo de inovação. “Grande seca!” -pensamos. E vamos mais longe: “Se me tivessem informado previamente que era este o assunto, eu sem sair de casa teria aprendido o mesmo.”
Andamos há quase meio século a fazer experiências laboratoriais com os nossos alunos, com os nossos docentes, com os mais diversos atores educativos, quando já tínhamos obrigação de lhes apresentar o produto final!