Subsídios Sociais

Opinião de Inês Sá 

Ines SaFoi no âmbito de uma formação na qual participei a semana passada, que veio, uma vez mais à tona, o assunto dos subsídios sociais. O desafio era, em grupo, conceber um mapa mental com as palavras riqueza e pobreza. Ao fim de algum tempo e de muitos contributos, reparei que a palavra “fome”, estranhamente, não fazia ainda parte do mapa relativo à pobreza, mas a palavra “subsídios” não só já lá estava, como fora até acompanhados da respetiva e extremamente redutora explicação: “São pagos para ficarem em casa!”- ouviu-se. Engoli em seco. Foi a vida e talvez o avançar da idade, que me ensinou que nem todas as guerras se devem comprar e nem todos os momentos são oportunos para o debate. Também aprendi com a vida que jamais conseguirei mudar o mundo, ou molda-lo da forma como o idealizo, e que a diversidade de ideias não só me enriquece como me fascina. Ao invés, causa-me algum repúdio o egoísmo inerente a este tipo de pensamento conservador, a esta forma estranha de viver em sociedade. Porque raio não conseguem estas mentes, pensar que não estão livres de um dia serem elas a terem de socorrer-se da solidariedade social? Porque raio não conseguem estas mentes, pensar que os subsídios não são um incentivo à malandrice?  De uma vez por todas entenda-se que os subsídios jamais são capazes de reverter uma situação de pobreza, eles simplesmente permitem a sobrevivência de quem se encontra mais fragilizado. Sim, já sei qual é o argumento que se seguiria: “Eles têm televisões maiores do que a minha que trabalho todos os dias”, “eles são é preguiçosos porque não falta trabalho”, “eles estão a enganar o sistema, e eu é que os sustento!”. Basta! Não ganhamos nada seguindo esta linha de pensamento. Não há regra sem exceção, pelo que haverá por certo aqueles que conseguem através da desonestidade e do “xico-espertismo” beneficiar de um subsídio qualquer, mas são incalculavelmente mais aqueles que só conseguem sobreviver, comer, estudar, comprar medicamentos, vestirem-se, ou até terem um teto onde viver, com recurso a estas prestações sociais. Por outro lado, não seremos nós, todos os dias roubados, com os negócios mafiosos do mais alto nível no sistema bancário? É que esses grandes senhores não precisavam certamente de toda essa máfia para sobreviver, comer, estudar, comprar medicamentos, vestirem-se, ou até terem um teto onde viver! Pura e simplesmente, entenderam ser mais espertos do que todos os outros e usufruir do prazer de uma vida de luxo à custa do enriquecimento ilícito! E tantos outros exemplos mais…

A mim, pessoalmente, tranquiliza-me mais saber que a vizinha do lado não está a passar fome porque recebe um subsídio qualquer, numa altura da vida em que por qualquer motivo não tem rendimentos, do que imaginar que aquela mesma vizinha passa por dias de amargura, de fome, de escassez, de doença, de desemprego, de miséria.

No nosso País, nos nossos dias, há alunos (inclusive crianças) que desmaiam na sala de aula com fome, há pessoas doentes e desnutridas pela escassez de recursos, há bebés a sobreviverem com quantidades de leite muito inferiores àquelas de que precisam para o seu normal desenvolvimento, e são exemplos destes que me envergonham, me angustiam, me inquietam e me fazem acreditar que muito ainda há a fazer pela igualdade social, principalmente porque apontar o dedo a quem está mais fragilizado, continua a ser mais fácil do que apontar o dedo em que esbanja felicidade.

Não será já tempo de se inverter esta tendência?

 

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