Opinião de Ricardo Serrão Santos
A ideia da criação de um Centro de Observação Oceânico nos Açores, particularmente dedicado ao estudo do mar profundo e sistemas pelágicos em contexto insular, não é uma ideia nova. Deixem-me lembrar que o apoio à criação deste conceito foi anunciado pelo ex-Ministro José Mariano Gago em 2010 aquando da inauguração do novo edifício do Campus da Horta da Universidade dos Açores. De imediato se começou a trabalhar na sua contextualização e enquadramento. O processo estava avançado, as ideias mestras e os objectivos definidos sob um consenso alargado. Infelizmente, o governo socialista onde o saudoso Ministro José Marino Gago coordenava as pastas da investigação científica e tecnológica, a par do ensino superior, viria a cair algum tempo depois. A ciência entraria em deriva em Portugal.
Mas o Partido Socialista nunca esqueceu este projecto e colocou-o, no programa do Governo, como pedra basilar da sua estratégia para o mar.
O arquipélago dos Açores tem já uma longa tradição de investigação do mar profundo e sistema oceânicos utilizando capacidades endógenas e uma alargada rede de colaborações e equipamentos. É por isso que, anualmente, juntam-se ao nosso navio de investigação “Arquipélago”, o NRP “Gago Coutinho” e diversas plataformas internacionais oriundas de países europeus e americanos. No entanto, mesmo debaixo de água, há equipamentos instalados que escutam permanentemente os oceanos na nossa área geográfica e outros que recolhem imagens a mais de mil metros de profundidade na zona da fonte hidrotermal Lucky Strike. Mais uma vez, alguns dos equipamentos são da Universidade dos Açores, de outras instituições de pesquisa marinha sedeadas nos Açores, como a Fundação Rebikoff-Niggeler, outros são de entidades externas, como é o caso do IFREMER, do GEOMAR, etc. Em terra laboratórios como o CoraLab, dedicado ao estudo dos corais e esponjas de profundidade em temáticas como a acidificação dos oceanos ou o LabHorta dedicado ao estudo dos sistemas quimiossinteticos de profundidade, são complementares das capacidades instaladas.
É fácil compreender que nenhum destes equipamentos funcionará sem uma equipa alargada. São necessárias dezenas de pessoas com formação avançada ou com competências técnicas muitíssimo especializadas. Neste momento, no arquipélago, há dezenas de cientistas doutorados, técnicos de laboratório e de informática, mergulhadores e até operadores de veículos submarinos de operação remota (ROV).
Quero enfatizar que o chamado Observatório Oceânico nos Açores não vai nascer do nada, pelo contrário tem como base capacidades instaladas e comprovadas que é necessário consolidar e estabilizar no tempo. Como sem recursos humanos não existe conhecimento um dos aspectos que vai ser necessário consolidar são os recursos humanos científicos.
A perspectiva integrada do Observatório Oceânico dos Açores permitirá por fim consolidar um centro de excelência em investigação do mar profundo para o qual há muito os investigadores do DOP e do IMAR-Açores consolidaram a prova do conceito.
Não se fala muito por aí, mas os investigadores deste centro de investigação já asseguraram a participação e o financiamento de 6 projectos e Investigação europeus do Horizonte 2020. Um dos mais cobiçados e competitivos instrumentos da investigação científica na Europa. Disse bem, 6 projectos H2020!… A prova maior de que não são os Açores que tiveram de ir à procura do Centro de Observação Oceânica, mas o centro que reconhece que é aquela Região que tem o terreno, as sementes e o adubo para consolidar o futuro do Mar Europeu.