Temos Orçamento de Estado!

Opinião de Maria do Céu Patrão Neves

Patrão NevesTemos Orçamento de Estado!
Não foi um processo simples ou rápido. A sua origem é remota. Remonta à Primavera de 2015 apresentando-se então como programa governativo do Partido Socialista elaborado longamente por “sábios” – segundo nos disseram. Depois foi sendo cortado aqui e ali, colado aqui e ali, de acordo com o que ia sendo reconhecido ora como inexequível, ora como de imprevisto impacto indesejado, em resposta às críticas que se iam sucedendo de economistas, associações corporativas, partidos políticos… Depois, em Novembro foi negociado com as esquerdas. Foi sendo cortado aqui e ali, colado aqui e ali, integrando as díspares exigências dos negociantes do Partido Socialista. Depois, em Fevereiro, foi apresentado à Comissão Europeia. Mais uma vez, foi sendo cortado aqui e ali, colado aqui e ali fazendo lugar para as exigências para não ser reprovado pelos parceiros europeus. E ao longo deste sinuoso processo, sempre o sorriso inalterável do sábio-mor, entretanto (des)promovido a Ministro das Finanças: de sábio passou afinal para alfaiate de um fato que parece que ninguém quer, um fato que não serve a ninguém…
Sim, com efeito, esta semana o debate sobre o Orçamento de Estado/OE terminou com o PAN a dizer “Não é o OE que pretendíamos”. Depois foi o representante dos “Verdes” a afirmar “Não é o OE dos Verdes”. Depois foi o representante do PCP a afirmar “Não é o OE do PCP”. Depois foi o representante do BE a afirmar “Não é o OE do BE”. Entretanto já o PSD havia afirmado não ser este o OE do PSD. Também o CDS-PP havia afirmado não ser este o OE do CDS-PP.
Confesso que fiquei confusa quando, depois de todas estas declarações de rejeição o OE foi aprovado…, mas reconheço que nos últimos tempos tenho tido dificuldade em acompanhar a lógica do discurso e a coerência das acções deste nosso Parlamento…
Estava eu a tentar processar toda esta informação e a tentar encontrar o seu sentido obscuro quando, subitamente, o nosso bem conhecido deputado Carlos César, como se tivesse irrompido naquele momento no hemiciclo, ausente por certo a tudo o que se tinha passado, nos surpreende a todos ao afirmar, no seu característico tom sério, tão grave quanto convicto, que “este é o OE mais português que poderia ser apresentado!”
Desorientada pareceu-me estar então a falar de um OE português aprovado no estrangeiro…, ou de um OE aprovado em Portugal pelo parlamento ocupado por estrangeiros…já que, o que é certo, é não ser este o OE de nenhum partido político, nem dos eleitores que estes representam; será, quanto muito, do Partido Socialista mas, mesmo em relação a este há que duvidar porque o OE também já poucas semelhanças tem com o que o Partido Socialista apresentou aos eleitores.
Não, não sei de quem é este OE. É capaz de ser apenas do Primeiro-ministro Costa, porque do Ministro Centeno não é certamente. O que sei, para além de qualquer dúvida, é que é para nós, e é isso que me preocupa…!

 

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