Opinião de Luís Rendeiro
Nunca houve tantas medidas de “mitigação”, de subsidiação ou de “apoio” àqueles que estão mais fragilizados. No entanto, a verdade é que tais medidas não têm contribuído para tirar pessoas da pobreza.
Pelo contrário, o que se verifica é que essa pobreza se perpetua e se agrava. Os mecanismos que deveriam fazer com que os pobres pudessem melhorar a sua condição têm garantido que já estejamos perante a terceira geração que depende das ajudas públicas para sobreviver.
Cada vez é maior o número de beneficiários de medidas como o rendimento social de inserção ou de outras do género. Faz-se gala disso, quando se deveria publicitar o número daqueles que deixam de precisar de ajuda…
Por outro lado, e a acrescentar à pobreza tradicional, temos hoje um conjunto completamente novo de pessoas em dificuldades, para as quais não há voz, representação, políticas ou qualquer tipo de ajuda.
Falo dos jovens que se fartaram de trabalhar, cumprindo exemplarmente o seu percurso académico, aproveitando todas as oportunidades que lhes foram dadas e que se tornaram na geração mais qualificada de sempre. Esses jovens, nos Açores, estão condenados a ficar em casa dos pais, muitas vezes até depois dos 30 anos, porque simplesmente não conseguem encontrar um emprego. Em alternativa, muitos vêem-se na obrigação de ter de mudar de ilha, sair da Região ou mesmo do País, de modo a poderem trabalhar. Outros safam-se com o cartão partidário de quem está no poder…
Pobres se tornaram também aqueles que, por força da crise, das más políticas, do desemprego ou de um divórcio, também se viram sem meios para fazer face aos seus compromissos financeiros, não lhes restando outra alternativa que não fosse regressar a casa dos pais, tantas vezes o único apoio de que dispõem…
Empobreceram os pais, dos mais novos e dos menos novos, que em vez de viverem as suas vidas com algum desafogo, se viram obrigados a continuar a fazer todos os sacrifícios, uma vez que os seus ordenados ou reformas se tornaram a única fonte de rendimento de famílias inteiras, com filhos e netos…
Deixámos de ter apenas a chamada “pobreza tradicional”. Temos também a pobreza qualificada, informada, abandonada, envergonhada… mas também cada vez mais revoltada.
São pobres que já foram donos de empresas. Pobres que tiraram cursos superiores, mestrados e doutoramentos. Pobres que arriscaram porque foram incentivados a investir, a quem se impingiram linhas de crédito, que já criaram empregos e ao lado de quem já se tiraram fotografias. Pobres que já foram ricos e que, sem culpa nenhuma, perderam tudo.
Destes ninguém quer falar e para eles não há apoios nem políticas. Mas tem de haver. Uns e outros são em cada vez maior número.
Uma governação que multiplica pobres, e os torna dependentes, é uma governação que falhou. Por mais que se façam anúncios e se brinque com os números. Quem está no poder há 20 anos não pode culpar mais ninguém…
Se me permite, destes também se fala muito, mas ninguém lhes dá voz.
Eu fui testemunha de uma dezena de jovens , tão qualificados, tão empenhados, que até eu fiquei agradávelmente surpreendida, apesar de só ter uma vaga, a escolha será com toda a certeza dificil…
Os tais pobres de “profissão”, aqueles que pontualmente ouvimos nas TV dizer “já procurou trabalho? Resp: para quê 700 euros do RMG chegam-me”, e já não sei se é gozar com a cara de quem trabalha e precisa, ou se é mesmo crença que o estado tem o dever de pagar sem pedir.
Estes, deveriam também ter objectivos, só que ninguém os coloca, pois que, essas são as bandeiras que fazem pender os resultados das eleições…
Depois tem os que sobrevivem, os que alimentam a máquina, destes TAMBÉM NINGUÉM FALA, provavelmente só serão falados, quando os outros já não receberem, por estes terem deixado de cumprir suas obrigações…
Até lá vamos fazendo de conta, onde uns contam mais que outros…
Albertina Correia
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