Opinião de João Bruto da Costa
Aproxima-se a passos largos a discussão e aprovação daquele que será o último Plano e Orçamento da presente legislatura.
Não ignorando aquilo que já se esperava em termos dos anúncios recheados de euros e do habitual uso destes instrumentos de planeamento para a costumeira campanha eleitoral que se avizinha longa, não podemos deixar de olhar para os compromissos assumidos e para as promessas vertidas em comunicados e outros instrumentos panfletários do Governo Regional que, não obstante aparecerem previstos nos planos anuais, fazem muitas vezes parte de previsões que repetem a sua não execução e a sua inscrição em Plano com verbas muito abaixo do necessário.
No caso da ilha Graciosa é já penoso este exercício de escrutínio dos diversos Planos e promessas que ali são vertidas e que, ora não podem ser vistas como execuções garantidas mesmo que a verba inscrita seja suficiente, ora as verbas não correspondem minimamente ao previsto para a efectiva realização do investimento.
Neste particular destaca-se o novo matadouro da ilha Graciosa, obra fundamental para a fileira da carne poder ambicionar um qualquer impulso de rendimento, apresentada em 2012 e que tendo sido anunciada vezes sem conta nas visitas estatutárias do Governo à ilha e, recentemente, constando num comunicado do Governo como uma obra a lançar pelo preço de 5,9 milhões de euros, aparece inscrita na anteproposta de Plano Regional apenas com um quinto desse valor, ou seja, 1,3 milhões de euros.
Como é que se faz uma obra de 5,9 milhões com 1,3 milhões? Já imagino que terá uma explicação qualquer contabilística ou de engenharia financeira, mas não podemos deixar de ficar com a dúvida de que, mais uma vez, se prepara um adiamento para mais próximo do acto eleitoral de 2016, o que leva a que em vez de assistirmos à plena laboração desta prometida infraestrutura nos vamos limitar a ver uma primeira pedra ou apenas a assinatura de um contrato.
Também merece destaque nesta questão uma outra obra há muito prometida, que já obteve cartazes e inscrições em planos e comunicados do Governo e que, mesmo mudando de nome, teima em não corresponder a um investimento real, mas apenas a mais uma programação eleitoral.
Trata-se neste caso da prometida Marina da Barra, que deixou de ser marina para ser obra de protecção costeira, anunciada e colocada a concurso por 7,4 milhões de euros mas que, na anteproposta de Plano do Governo, aparece com 2,2 milhões de euros, ou seja, com apenas um terço do valor anunciado e colocado a concurso.
Já imaginamos que em ano de eleições e depois de quatro anos de um envergonhado abandono, o Governo tudo fará para neste “sprint” final de legislatura tentar conter as críticas sobre o desamparo a que a ilha Graciosa tem sido entregue. E os graciosenses já conhecem bem esta estratégia politiqueira de guardar para os meses finais de mandato alguma correria de euros em projectos prometidos há mais de uma década.
Podia ainda fazer notar outras contradições, como a de em Setembro anunciar uma cozinha de 700 mil euros e em Outubro inscrever essa obra em Plano com 300 mil euros, entre outros devaneios socialistas. Mas o que se impunha nestes últimos anos era que, dando corpo à sua própria tese de ciência política, Vasco Cordeiro tivesse dado mais atenção àquela ilha que mostrou bem o seu descontentamento em 2012. É que não se pode passar o tempo a exigir que os outros façam aquilo que os próprios não cumprem com o seu exemplo.