Opinião de Maria do Céu Patrão Neves
Nas próximas eleições legislativas, no dia 4 de Outubro, há muito em jogo!
Joga-se, primeiramente, o sentido dos sacrifícios dos últimos quatro anos.
Por muito que a efervescência do período eleitoral inspire a criatividade e aguce a imaginação (e algum impudor também), a honestidade intelectual obriga ao reconhecimento de que foi o governo socialista de Sócrates que chamou, com urgência, a assistência financeira da troika e de que foi também este governo que negociou e assinou os termos da austeridade que seguidamente se abateu sobre o nosso país, pelos desvarios financeiros praticados pelo mesmo governo socialista. As mais duras políticas implementadas pelo governo de coligação foram uma herança do governo socialista o que, apesar da amnésia selectiva dos eleitoralistas, convém não nos esquecermos para não repetirmos os erros do passado (as três vezes que Portugal democrático ficou sob protetorado financeiro externo aconteceram com governos socialistas!).
Convém igualmente não esquecer que foi o governo de coligação que, não cedendo às pressões da esquerda despesista, não negociou nem mais tempo, nem mais dinheiro para a dívida contraída, tendo conseguido a retirada da troika no mais curto espaço de tempo possível e tendo igualmente já começado a pagar o nosso endividamento colectivo.
Convém também reconhecer a ainda tímida mas consistente recuperação económica e social do nosso país que índices isentos evidenciam, indiferentes aos mais ousados malabarismos financeiros de quem prefere apregoar desgraça do que vislumbrar a esperança. Portugal foi o país da União que mais emprego criou no último ano, as exportações continuam a subir, a confiança dos consumidores é a mais alta dos últimos largos tempos, etc., etc.
É certo que, no meio de muitas dificuldades que muitos vivem ainda hoje, o pior já passou e o caminho da recuperação já se iniciou.
Nestas eleições joga-se o passado recente do país, o resultado, os frutos dos anos de sacrifícios que não podem ser desperdiçados em novas aventuras lideradas pelos que repetidas vezes abriram a porta do país à austeridade da assistência financeira.
Mas nestas eleições joga-se também o futuro do país. E não me refiro já apenas a uma comparação de alternativas entre a coligação e os socialistas, mas às expectativas de uma convivência necessária na ausência de uma maioria e sempre conveniente a bem do país. A coligação afirmou então que os interesses nacionais se sobreporiam às vontades partidárias; os socialistas recusaram liminarmente qualquer diálogo e até afirmaram votar contra um orçamento proposto pela coligação, mesmo antes de o conhecerem. Fico preocupada. Afinal, os partidos políticos não valem por si mas devem servir o maior bem do país e dos cidadãos. Não é amuando em caso de derrota que beneficiarão alguém nem, de facto, os próprios…
A questão da governabilidade está exposta e a possibilidade de um entendimento à esquerda, que só poderia ser entre socialistas e bloquistas, afunda a minha preocupação de um arrepio no ainda frágil caminho da recuperação.
Nas próximas eleições há muito em jogo: o passado e o futuro jogam-se no presente, a 4 de Outubro!