Avaliação Perversa

Ines Opinião de Inês Sá

 

Falar ou pensar a educação neste milénio, sem falar em avaliação é, lamentavelmente, tarefa quase impossível. Tudo que flui no âmbito educacional passou a ser passível de ser avaliado, fazendo com que desta avaliação dependa até, o cumprimento dos deveres do estado, para com a escola pública. Esta visão limitada e redutora relativamente a um tema de tamanha importância, como nunca poderá deixar de ser a educação, em nada tem contribuído para a melhoria das aprendizagens dos alunos, que se veem completamente embrenhados em constantes e cada vez mais frequentes, momentos avaliativos. No entanto, e porque hoje não é minha intenção esmiuçar o impacto destas avaliações no percurso escolar do aluno, não posso deixar de partilhar convosco, a minha interpretação relativamente aos resultados dos exames do 4º e 6º anos.

Começaram a ser divulgados pelo Instituto de Avaliação Educativa (IAVE), já no início da passada semana, os resultados preliminares destes exames, os quais sendo ainda preliminares, no âmbito regional, revelam a continuidade de uma média negativa à disciplina de matemática (1º e 2º ciclos) respetivamente de 49,8% e 39,5%, e uma média positiva na disciplina de Português de 58,8% no 1º Ciclo e 51,7% no 2º Ciclo. Na verdade, em ambos os ciclos e em ambas as disciplinas, é de salientar que houve uma tendência positiva, se comparados estes resultados com os anos transatos, da mesma forma que se constata que comparativamente com os resultados a nível nacional, os resultados da Região na sua totalidade se mantêm ainda abaixo, uma vez que no todo nacional não houve este ano qualquer média negativa, sendo o valor mais baixo relativo à disciplina de matemática do 2º ciclo que, ainda assim se fica pelos 51%.

Estas são pois, as conclusões que no imediato e com os dados de que disponho neste momento, se podem tirar. Contudo, e porque me recuso a interpretar as aprendizagens com base em números e médias, qualquer criança do 1º ou do 2º ciclo seria certamente capaz de concluir que algo de errado se passa nestas contas, mesmo que não entendesse ainda que estamos a escassos meses de um novo ato eleitoral e que, convenientemente, segundo afirma até a Associação de Professores de Português, “as provas foram feitas para que os meninos não tivessem maus resultados” e que “Eram mais fáceis do que as de 2014, que por sua vez já foram mais fáceis do que as de 2013.” Mas como já alguém dizia, isso não interessa nada agora!

Interessa sim questionar, como é possível que, sabendo que estas provas contam 30% da sua classificação final, 1/3 dos alunos, quase metade ou mais de metade dos alunos (dependendo do ciclo e do âmbito) dos alunos do 6º ano, não consigam atingir uma média positiva a matemática? Interessa sim questionar, como é possível que na língua materna 1/3 ou quase metade dos alunos não consigam atingir uma média positiva? Alguém porventura acredita que a maioria dos alunos em Portugal tem dificuldades de aprendizagem?

Não, Sr. Ministro Dr. Nuno Crato! Estou certa de que ninguém acredita, ou S. Exa. acha mesmo que mais de 50% dos alunos são burros ou menos capazes e S. Exa. faz parte da minoria dos espertos? Acha mesmo que a classe docente não faz ao longo de todo o ano letivo muito mais e melhor do que estas percentagens espelham? Acredita mesmo que estes resultados atestam a qualidade do ensino e das aprendizagens dos alunos? Provavelmente acredita, aliás tendo em conta o desrespeito que tem tido pela classe docente, deve acreditar nisso e muito mais. Mas eu não acredito, acredito sim que Portugal insiste em manter Programas e as Metas Curriculares totalmente desajustadas à idade das crianças, e não se convença V. Exa. de que isto vai lá com mais horas de Português e Matemática, que para além de nada resolverem, prejudicam e muito as restantes áreas curriculares, indispensáveis para o desenvolvimento das crianças, inclusivamente para a construção e amadurecimento da sua identidade.

Haja coragem para desfazer o mal que está feito!

 

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