Uma geração europeia

1272463991_maria_do_ceu_patrao_neves Opinião de Maria do Céu Patrão Neves

 

Recentemente assinalaram-se duas datas muito importantes para o nosso país: o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, a 10 de junho, e os trinta anos da nossa adesão à então Comunidade Económica Europeia/ CEE, e hoje União Europeia, a 12 de Junho. As duas celebrações estão hoje fortemente ligadas: o Portugal moderno foi moldado pela nossa integração europeia.

Não me refiro aqui particularmente ao impressionante financiamento de que Portugal tem usufruído: a média do financiamento comunitário diário a Portugal, entre 1986 e 2014, foi de 9 milhões de euros e no actual Quadro Estratégico Comum 2014-2020 a União Europeia transferirá cerca de 11 milhões de euros por dia (não, não me enganei nos valores nem no facto de serem diário!). Aliás, a este propósito não resisto a interpelar os crónicos críticos da nossa integração europeia acerca de um outro poder político que pudesse contribuir igualmente para o nosso desenvolvimento ou como este se poderia processar sem o apoio comunitário…

Pretendo sobretudo destacar a face visível do Portugal de hoje que, beneficiando do financiamento comunitário, beneficiou também dos regulamentos comunitários que instauraram no nosso país elevados padrões de boas práticas a diversos níveis. Deste modo, para além da construção de estradas e pontes, ou também de canalizações para distribuição de água potável e para recolha e tratamento de resíduos, ou ainda de infraestruturas socialmente vitais como são hospitais e escolas, tornadas possíveis pelo fluxo constante de apoios comunitários, regista-se também um progresso imenso na nossa vida colectiva pela transposição de Directivas e cumprimento de outros normativos jurídicos: o país dispõe também, por exemplo, de exigentes regras de qualidade e segurança alimentar, mas também de qualidade das águas, do ar, das praias, ou ainda de segurança dos brinquedos, dos transportes colectivos e particulares, de defesa dos direitos dos consumidores, como dos cidadãos em geral, etc., etc.

E, como cenário que torna todas estas realizações possíveis, temos como inestimável valor da nossa integração europeia, a consolidação da nossa democracia, uma das razões fundamentais para o nosso pedido de adesão em 1977, quando o perigo do totalitarismo de esquerda não estava ainda definitivamente afastado.

Sei bem que está hoje na moda criticar a Europa: intelectual que se preze não deixará de o fazer com arrogância; político que se queira afirmar de esquerda não deixará de o fazer com desprezo; e o cidadão comum não deixará de alinhar pelo que a nobreza dos nossos fazedores de opinião propagandeia – reféns de um círculo vicioso em que frequentemente dizem o que creem se quer ouvir, os ouvintes repetem o que lhes foi dito, e os comentadores persistem na mesma linha opinativa que sabem ser repetida pelo povo…, e assim sucessivamente…

É fácil atirar para a Europa todos os tóxicos políticos, financeiros, económicos e também sociais, muitos dos quais produzidos por nós próprios. Afinal, ela não responde, não prova o contrário. Mas a comparação entre o Portugal e os Açores de 1985 e de 2015 fala por si e evidencia que, 30 anos depois da adesão, e mesmo com as dificuldades do presente, vale a pena celebrar a nossa integração europeia.

 

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